Sobrevivi
"Apoia o seu pé no suporte da roda e chega um pouco para frente."
Ponho-me um pouco para frente...
Inesperadamente (do meu ponto de vista), saio do avião e mesmo que eu esteja ligado ao instructor sinto-me sozinho nesta queda livre. (Quem é que me deu esse empurrão?) As próximas palavras não se percebem devido ao rugir do ar enquanto aceleramos direcção ao chão. A primeira vista da terra a partir de 3500 metros de altura é deslumbrante. Ela pisca o olho através do seu véu translúcido...
Damos uma cambalhota e vislumbro o avião, o azul escuro do céu, as nuvens e por fim a vista centra-se novamente na terra. Começamos a girar em direcção contra-relógio e damos umas cinco voltas. Pelo menos, contei com cinco aviões. Tenho tonturas que se corrijam com mais cinco voltas (acho eu) sentido do relógio.,,
O instrutor informa que já conseguimos a velocidade terminal de 200 km/h e atravessamos as nuvens rendadas num ápice. Pondero o significado da denominação "terminal"...
O sussuro do "drogue" a abrir-se interrompe os meus pensamentos e prediz uma mudança de aceleração. O pára-quedas principal sai da mochila e desdobra-se com um clamor magnificente. Uma suave aceleração negativa acompanha o trovão do glorioso léncol de nylon azul...
O bem-aventurado pára-quedas está aberto e cumpre a sua função com um ar taciturno como se me dissesse: "Bem te disse". Estamos pendurados num silêncio quase completo...
Puxo o guiador esquerdo para baixo - até ao joelho - e damos duas voltas completas. Sinto o a força centrifugal nos pés. Rapidamente inverto o movimento e darmos mais voltas à direita. Dou uma risada de exultação. Estou vivo! Os campos, as pessoas, e o gado lá em baixo não se dão conta.
Está na altura de nos orientar para a zona de aterragem. Vê-se o pequeno lago ao lado da pista do avião. Descemos um bocado e de repente apanhamos um "elevador" que nos levanta vários metros. A nova elevação obriga uma nova orientação e dou todo controle ao "pro"...
Descemos rapidamente para sairmos da camada de turbulência, mas encontramos um vento capricioso que nos dá por vezes beijos e por outros bofetadas. Apontamos para o alvo no chão, mas o vento tem outras ideias e os "apanhadores" são obrigados a correr atrás de nós. Chegamos à terra de rabo para baixo de deslizamos pelo relvado e paramos...
Ainda não acabou! O vento ainda quer brincar e nos puxa para trás! O "ground crew" finalmente chega e apanha as cordas. O pára-quedas cai para o chão. O vento dá um beijinho final e vai brincar para outra banda.
Mais tarde toco guitarra enquanto o dirigente de louvor canta "Deus da Terra e dos Céus." Aprecio a mensagem com uma perspectiva nova...
Não vou dizer "não gostei." Nem digo "nunca mais." Digo mas é que confio mais na rocha e prefiro estar bem ligado a ela.
E ainda... Jesus é a minha Rocha onde quer que eu esteja. Por isso não preciso do pára-quedas... em termos espirituais!
Um pensamento final: Para os próximos tempos, tem cuidado se me pedires para chegar um pouco para frente... sou capaz de desconfiar mais do que um bocado!
1 comentário:
Excelente descrição.
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