quinta-feira, maio 06, 2004

Hoje não consegui manter uma atitude de compaixão e misericôrdia. Estava a pôr umas coisas no carro (aliás a carrinha que tem uma porta que deslisa para trás) quando fui abordado por uma mendiga (cigana pela roupa etc., mas isso pouco interesse) que, com voz trémula, mostrou-me uma daquelas fotos de um pobre que precisa de não sei o quê... pois nunca cheguei a saber tanto pelo mau estado da cartolina como pela maneira brusca que ela a retirou para começar de novo a pedir esmolas. Fiquei "entalado" entre a burla óbvia e a pobreza até masi óbvia. Dei umas moedas e ela desviou a sua atenção para a minha esposa que já estava no carro. Meio entrando pela porta aberta, começou a cantar a sua miséria de novo. A minha querida recusou-se de dar mais dinheiro (pois é o nosso hábito oferecer comida, mas não tínhamos nada connosco) e antes ofereceu orar pelo miúdo da foto. A mendiga, ainda inclinada para dentro do carro, fez uma pausa para respirar e a minha esposa aproveitou para dirigir umas palavras para Deus. Se a senhora mendiga ouviu, não sei. Mal acabasse o som do "amem" e ela já começava a sua cantarola... Comecei a fechar a porta (sim, ela ainda estava com a metade inferior pendurada por fora) dizendo umas quantas vezes: «com licença, minha senhora!». Finalmente ela relentou e seguimos todos ao nosso caminho.

Ainda não sei digirir isto tudo.

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